domingo, 10 de junho de 2007

Ulisses por onde andaras?

Diga me com quem andas e te direi quem és, infelizmente ou felizmente dependendo do ponto de vista da abordagem ou da ótica do interlocutor essa afirmação não é mais verdadeira, foi transformada em mais uma de nossas falácias, Nós brasileiros estaríamos nos tornando grandes fazedores de falácias ou o termo correto seria sofismo? Não sei, às vezes penso que brincar com as palavras pode dar futuro no Brasil, mais do que o uso apropriado das mesmas. Afinal de contas, alguém lê, alguém se importa? Está faltando brasa ou então esta sobrando sardinha. Entender o Brasil passa por ter que engolir que exportar com dólar a R$1,90 da mais lucro e é melhor do que com dólar a $2,90, será que a matemática mudou? "O álcool não dá esse lucro que se imagina", dizem as distribuidoras, "trabalhamos com volume (e que volume!!!) nosso negócio não passa de 2%". Eta! Ou seria eita? O álcool está sendo vendido nas Usinas e destilarias a 0,58 centavos, você já ouviu falar do "Admirável Mundo Novo?” Que título daria o autor se livro sobre o Brasil escrevesse?

Bem meu caro, deve te lembrar que nós nos encontramos em 1979, almoçamos juntos após a entrevista que me concedeste, então para poder fazer sentido o que declaraste naquela ocasião agora te pergunto - Onde andas? Onde estão os teus? Não há entre homens um que levante a voz e grite em alto e bom tom: Não foi para isso que lutamos, não foi isso que pregamos, não foi isso que sonhamos. O sonho acabou? Será que não foi simplesmente o uso da necessidade latente como meio de alcançar o poder e seguindo a lição de Maquiavel se perpetuar no poder pelo poder?

"O HOMEM E A LIBERDADE"

-Senhoras, Senhores, Correligionários:

-O Homem e a Liberdade ou o Homem é a Liberdade?

-Não são categorias distintas, homem e liberdade, pois o homem é a liberdade.

-Se não é livre, não é homem, por ser irresponsável. Pode ser besta, vegetal, até mineral, homem não é.

-Quem não é livre para optar, não pode ser responsável para o prêmio ou para o castigo.

-O homem é o livre arbítrio. A expressão é definição: ele é arbítrio independente para pensar e agir resuma-se “para escolher”.

-Essa liberdade gera a responsabilidade, pelo pecado ou pelo erro cometido.

-Sem liberdade primeiro, não há responsabilidade depois, pois responsabilidade prévia não é responsabilidade, é determinismo, censura ou negação da liberdade.

-Liberdade não é o Direito, mas a possibilidade de errar e pecar. Não há Direito para o mal.

-Quem não crê nisso, não crê em Deus nem no homem, só crê em si mesmo. Arvora-se em proprietário da verdade. Na esfera religiosa é fanático e na política, tirano.

-Governados sim, escravos nunca, eis a terrível questão.

-O poder não corrompe o homem, é o homem quem corrompe o poder. Também aqui, o homem é o grande poluidor.

-O poder não é perigoso. Perigoso é seu exercício por homens imperfeitos, egoístas, vítimas de apoteose mental ou do culto à personalidade. São os burros carregados das relíquias, da fábula de La Fontaine.Presumem que as zumbaias são para si, não para as relíquias. Espantam-se e se lamuriam quando ao acabar o mando, acaba o incenso.

-Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria a anarquia, isto é, o absurdo, cruel e caótico império do egoísmo da vontade de cada um.

-Há homens que vivem contentes, mesmo que vivam sem decoro.

-Há outros que sofrem como em agonia quando vêem que há homens que a seu redor vivem sem decoro.

-No mundo deve haver certa quantidade de decoro, como deve haver certa quantidade de luz.

-Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros que têm em si o decoro de muitos homens.

-Lutemos pela Liberdade.

-Na Democracia, o soberano é o povo

-Há 406 anos antes de Cristo já Eurípides decretava: “É escravo aquele que não pode dizer o que pensa”. Os partidos, pelos seus porta-vozes hão de dizer o que pensam. Não o fazendo, são cúmplices do arbítrio, não intérpretes do povo.

Não fostes tu que proferistes as palavras que transcrevo acima? Não seriam pródigos os que te seguiam? Será que não fostes simplesmente usado?

Caro doutor se vivo fosses eu a ti diria, em que pese o fato de não termos a quintessência da prova final, o ônus da dúvida a ti não poderia pertencer, tu não irias aceitar. Pelo menos disto eu devo estar certo.

Esqueceram-se os teus, que um dia foste pródigo, que um dia foste homem, que um dia lutastes por nós, pelos nossos direitos, pela nossa liberdade, ou foram eles corrompidos pelo lodaçal que encontraram? Perderam-se no caminho ou simplesmente caíram na areia movediça da corrupção? Afinal, nos enganaste? Eras um embuste? Nos ludibriaste com palavras belas? Nos embalastes com sonhos de liberdade? O que eras afinal? Nada. Simplesmente mais uma de minhas alucinações, as mesmas que tenho hoje em meus momentos de lucidez. Será que todos estão percebendo? Preciso ser mais cuidadoso.


Obs: "O Homem e a Liberdade", foi uma palestra do então Deputado Ulysses Guimarães, Presidente do Diretório Nacional do MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, proferida em FLORIANÓPOLIS, Estado de Santa Catarina, em 18 de junho de 1976, encerrando o Simpósio sobre o tema do Título, o primeiro organizado pelo INSTITUTO PEDROSO HORTA, na Assembléia Legislativa de Teresina, Estado do Piauí, em 13 de agosto de 1976.

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