terça-feira, 22 de maio de 2007

Sempre se sabe.

Ao ler a seção Opinião da Folha de São Paulo de hoje, me deparei com um texto que me chamou atenção talvés por ter identificação com o que vejo e vivencio atualmente ou talvés porque ao final do texto a observação sobre Marx tenha me trazido a baila um antigo hábito que estou retomando.
Acredito que a leitura do texto é muito boa para uma reflexão. (transcrição da Folha de São Paulo, link no título)

O texto é de autoria de CARLOS HEITOR CONY.

Sempre se sabe.

RIO DE JANEIRO - No romance, dois irmãos são diferenciados porque um é filho legítimo e o outro, ilegítimo -num tempo em que a lei civil fazia esse tipo de diferença. Suportam-se na medida do possível.
Já adultos, os pais mortos, têm coragem de conversar sobre o assunto que os separa desde a infância. O irmão legítimo fica admirado ao ver que o meio-irmão conhecia a origem bastarda. Pergunta admirado: "Como é que você soube?". O outro responde: "No fundo, sempre se sabe".
Na vida real acontece mais ou menos a mesma coisa. Cedo ou tarde, de forma completa ou não, por meios legais ou violentos, ficamos sabendo do que acontece em volta da sociedade. Aparentemente, há a versão explícita e negociada dos atos e fatos que podem ser divulgados, comentados, até mesmo criticados, quando o regime é democrático, a imprensa é livre e os tribunais funcionam normalmente. A maioria daquilo que realmente acontece fica encapsulada pelas conveniências do poder e pela sabedoria geral, que aconselha a não meter a mão em cumbuca.
Apesar disso, o conflito de interesses periodicamente desponta e tira do casulo um pouco da verdade, ou pelo menos uma versão não-autorizada, levantando o espesso tapete que ocultou o lixo sempre suspeitado, mas pouquíssimas vezes provado. Surge então um grande escândalo, cujas proporções variam de acordo com a soma de escândalos menores.
Marx disse que ninguém melhor do que Balzac estudou o dinheiro como personagem da história. No tempo do autor de "Cesar Birotteau", podia-se enriquecer de várias maneiras, inclusive as legais. Hoje, o caminho preferencial para a riqueza passa pelo Estado, nem sempre de forma legal. Podemos fechar os olhos para isso, mas, no fundo, sempre se sabe.

Máteria escrita por CARLOS HEITOR CONY, publicada na Folha de São Paulo de hoje, 22 de abril de 2007, na seção OPINIÃO.

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