terça-feira, 27 de maio de 2014

Sobre a forma de vermos as situaçoes

Em setembro de 1974 eu abandonei a escola de engenharia onde cursava o curso de Engenharia Civil, a época era brava o DOI-CODI estava perseguindo universitários e o Rio de Janeiro não me parecia seguro para estudantes universitários com ideias revolucionarias (ideias estas baseadas em ideais para tornar o mundo um lugar mais justo e melhor para se viver), hoje o Rio de Janeiro não o e para ninguém mais.

Voltando a Sertãozinho decidi que deveria procurar uma Universidade para ver se minha nova escolha seria realmente a mais adequada a meus planos de futuro, e fui parar na UNAERP na época a única faculdade em Ribeirão Preto que oferecia cursos de comunicação e eu tinha decidido que iria cursar o curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Na faculdade tive meus primeiros contatos com a relação: produto, necessidade, empresa e também foi onde me contaram as primeiras estórias sobre comercialização e técnicas mercadológicas e é uma dessas estórias que passarei a relatar a seguir:

Na região de Ribeirão Preto tem uma cidade muito famosa, internacionalmente conhecida pelo seu sustentáculo econômico, o sapato. Franca (que já foi do Imperador) possui uma das maiores produções de sapatos do mundo. Na década de 80 muito se trabalhava para expandir as exportações e os fabricantes de sapatos de Franca não eram exceção, e em suas conjecturas os diretores da associação Francana dos fabricantes de sapato tiveram uma ideia que logo puseram em pratica. Enviar os melhores vendedores, das maiores fabrica de sapato de Franca a outros países para estudar o mercado local com vistas à ampliação do mercado de compra de sapatos.

Escolhidos dois senhores, com base em sua experiência e quantidade de sapatos que vendiam no mercado nacional, estes foram enviados para aquele que seria o primeiro mercado a ser estudado – a África.

Saíram os dois, de São Paulo com destino a Angola (lá também se fala português e a língua não seria um fator de complicação a mais) ao mesmo tempo no mesmo avião. Após algumas horas desembarcaram no aeroporto e ao saírem do avião com destino ao saguão onde iriam receber a bagagem, começaram a observar um fato que chamou a atenção de ambos, a maioria das pessoas não usava sapato e estava descalça, após alguns minutos de uma talvez ate mesmo incredulidade, os vendedores saíram em disparada gritando e procurando por um telefone publico que pudessem usar, deixando o aeroporto em polvorosa. Ao se depararem com os telefones cada um deles entrou na cabine e fez uma ligação, cada qual a sua fabrica.
Aqui a transcrição do telefonema do primeiro vendedor:

- Alo, e da fabrica x?
- Sim,
- Vocês estão todos loucos, estou retornando imediatamente não ficarei aqui nem mais um minuto, perdendo meu tempo.
- Sim, mas por quê?
- Ora como vocês esperam que eu venda sapatos em um lugar onde ninguém usa sapatos...
- Como?
- Sim, é isso mesmo que você ouviu aqui ninguém usa sapatos estão todos descalços.
- Verdade? Então volte imediatamente porque teremos que procurar outra solução.
- Claro, já estou voltando.

Na cabine ao lado outra ligação também estava em andamento, a do segundo vendedor e esta e a transcrição do telefonema:

- Alo????. E da fabrica... Por favor, rápido...
- Calma, calma, devagar não se afobe. Você está muito desesperado.
- Claro que estou, preciso que vocês me enviem uma fabrica inteira agora
- Como? Uma fabrica inteira?
- Sim, e pra já não podemos perder um minuto.
- Ótimo, mas me explique por que.
- Vocês não vão acreditar, mas esse e o maior mercado de sapatos do mundo, esta todo mundo aqui precisando de um sapato, esta todo mundo descalço.
- Nossa mãe, já iniciarei o processo para atender o pedido.

Aqui temos uma mesma situação com dois pontos de vista, que poderíamos classificar como otimista e pessimista? Não. Mas como percepção e oportunidade.
Tudo na vida é assim, tem sempre mais de uma face para observarmos, mais de uma forma de abordagem, mais de uma opinião, a questão é: onde nos encaixamos?

Escrito por Jose Pinto em 30/04/2007 às 12h08

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